top of page

Interobjetividade

  • Foto do escritor: Fernando Maia
    Fernando Maia
  • 8 de mar. de 2018
  • 2 min de leitura

Atualizado: 17 de nov. de 2020


Pensando o coletivo

Voltar-se para as coisas mesmas já é uma exigência relativamente antiga na filosofia, vem do tempo em que ela necessitou sair do campo restrito que lidava prioritariamente com reflexão e contemplação e foi forçada a compor de modo efetivo com o mundo em volta. Entretanto, parece que o novo posicionamento, determinado pelos mesmos parâmetros que nos levavam a permanecer nos quadros dos antigos esquemas representativos, não ia muito longe. Se as teorias pedagógicas e políticas que procuram um meio de sair da escuridão para a luz (em conformidade com o modelo platônico) por mais que se façam de libertadoras ou libertárias, nada mais fazem do que reforçar a velha distribuição entre aqueles que sabem (leitores, críticos, desmistificadores…) e aqueles que acreditam (analfabetos, alienados, supersticiosos manipulados…), do mesmo modo a manutenção do correlacionismo reforça a distribuição em si/para nós que faz de todo ir às coisas apenas um olhar pela janela, pois o acesso às coisas se dá unicamente enquanto elas se oferecem para ou são estabelecidas por nós (impossível pensar num mundo sem homem ou num sentido próprio das coisas sem a intervenção humana). Assim, o mundo das coisas fora do campo da representação continua em suspenso, fora do circuito, e, como essa suspensão se constitui como o horizonte possível daquilo que pode ser pensado, o veredicto está lançado para quem pensa e especula sobre esse mundo em suas relações e simbioses próprias: realismo ingênuo.

Recentemente, alguns filósofos se incomodaram com esse veredicto e seus interditos e estabeleceram tentativas diferentes, mesmo que abrigadas sob o termo comum de realismo especulativo, para que saíssemos efetivamente de nosso porto seguro, das águas abrigadas da interpretação do mundo por um sujeito senhor das relações. Mas, já Michel Serres apresentava uma construção não guiada pelos diversos candidatos a centro do círculo correlacional quando nos apresentava um roteiro de interferências que saltava do mundo assentado na relação sujeito-sujeito (o sujeito como condição para toda experiência possível) para um mundo, o nosso, que, cada vez mais, vai às coisas ao se orientar pela relação objeto-objeto (o sujeito como efeito da experiência real). É animador, a partir desse mundo, poder especular sobre as coisas enquanto em simbiose e nós humanos como um caso entre elas. Essa via permitirá compor pragmatismo e especulação abrindo para um novo coletivo não baseado exclusivamente nos homens, mas levando em consideração a conectividade de todas as coisas, as ligações múltiplas refratárias às purificações e às autossuficiências?


Fernando Maia

Comments


Lâmpada
Logo Conversa Infinita
  • Google Drive

© 2021 Criado por Conversa Infinita

bottom of page